quinta-feira, 13 de março de 2008

Rock News: Ex-namorada de John Lennon lança livro com fotografias do Beatle

fonte: New York Times
Se há uma coisa que May Pang tem combatido nos últimos 28 anos, é a idéia de que John Lennon[bb] estava deprimido, isolado e fora de controle durante os 18 meses em que viveu com ele, do verão de 1973 ao início de 1975, quando o músico se reconciliou com sua segunda esposa, Yoko Ono. O próprio Lennon difundiu essa percepção dos fatos ao se referir àquele período como seu “fim de semana perdido” nas entrevistas que deu em 1980, quando lançou “Double fantasy”, um álbum em parceria com Ono que foi sua volta à música após um silêncio de cinco anos.

Histórias sobre Lennon bêbado sendo expulso do Troubador, uma casa noturna de Los Angeles, parecem comprovar essa imagem. Mas para Pang, hoje com 57 anos, o “Fim de Semana Perdido” foi uma época extremamente produtiva, durante a qual Lennon terminou três álbuns – “Mind games”, “Walls and bridges” e “Rock ‘n’ Roll” – produziu discos de Ringo Starr e Harry Nilsson e gravou com David Bowie, Elton John e Mick Jagger.

Depois de ter detalhado essas experiências (junto com a expulsão do Troubador e outros momentos sombrios) em “Amando John”, suas memórias de 1983, Pang voltou agora com evidência fotográfica. Seu novo livro, “Instamatic karma” (publicado pela St.Martin’s Press), é uma coleção de 140 páginas de fotos casuais que ela tirou durante o período que passou com Lennon.

“Um amigo meu ficava dizendo, ‘você conta tantas histórias sobre o John, e quando faz isso diz, espere aí, tenho uma foto para acompanhar o que estou contando! Como é que a gente nunca vê um livro com essas fotos?’ Então, achei que talvez fosse a hora de publicá-las. Isso permitirá às pessoas ver John nesse mundo, pelos meus olhos. E faria com que ele se livrasse daquela coisa do ‘Fim de Semana Perdido’, que todo mundo fala que foi uma fase depressiva em que ele estava com péssima aparência. Eu não creio que essas fotos pareçam assim”.

E não parecem: nas páginas de “Instamatic karma” – o título é uma brincadeira com a canção “Instant karma”, de Lennon – o Beatle parece relaxado, feliz e é visto passando algum tempo com seu filho, Julian, assim como com alguns amigos famosos, entre eles Paul McCartney, Ringo Starr, Nilsson e Keith Moon. Ele é mostrado trabalhando no estúdio de gravação, nadando em Long Island Sound, fazendo palhaçadas no Central Park e visitando a Disney World. Pang ordenou seu livro por assunto, em vez de cronologicamente, em quatro capítulos chamados “Em casa”, “Brincando”, “Trabalhando” e “Longe”.

Momento crucial

Para seu arrependimento, ela perdeu alguns momentos famosos. Em 28 de março de 1974, houve uma jam session em Los Angeles que incluiu Lennon, Nilsson, McCartney e Stevie Wonder, por exemplo, e que não foi documentada. Mas Pang capturou um exemplo importante: Lennon assinando o acordo que dissolvia a parceria dos Beatles em 29 de dezembro de 1974. Depois de quatro anos de negociações, os Beatles concordaram – ou pareceram concordar – com os termos que regiam sua separação formal, e um encontro foi marcado para 19 de dezembro no Plaza Hotel, em Manhattan.

George Harrison estava tocando no Madison Square Garden naquela noite, Paul McCartney havia vindo de Londres e Starr, que já havia assinado o documento, estava ao telefone. No último minuto, Lennon fez objeção à cláusula que ele achou que poderia criar um problema com impostos para ele (por ser o único Beatle que morava nos EUA) e decidiu que não iria. Harrison, furioso, cancelou os planos de se juntar a Lennon no palco no Madison Square Garden, mas McCartney apareceu no apartamento que Lennon dividia com Pang no número 52 da Rua Street para discutir o assunto.

Dez dias depois, quando Lennon, Julian e Pang estavam na Disney World, um advogado apareceu com o contrato revisado e Lennon pediu para que Pang sacasse sua câmera. A fotógrafa descreve a cena: “quando John desligou”, escreve ela, “ele olhou melancolicamente pela janela.” “Era como se eu o visse revivendo toda sua experiência com os Beatles.”

Pang então fotografou o Beatle sentado sob as assinaturas claramente legíveis de Paul McCartney, George Harrison e Richard Starkey (o nome verdadeiro de Ringo), a câmera clicando entre o “h” e o “n” de seu primeiro nome. Considerando que Lennon foi particularmente militante sobre sair dos Beatles em 1969, pode parecer estranho que ele tenha feito isso de forma melancólica. Mas não para Pang. “Todo mundo muda”, afirmou ela.

“Com John as coisas mudavam diariamente. É uma questão de tempo. Cinco anos antes as coisas não eram iguais. Em 1974, ele havia visto todos. A amizade ainda existia. Eles eram como irmãos. Não havia animosidade entre eles. E mesmo que sentissem que tinham que se separar para atingir o próximo nível de suas carreiras musicas, John havia fundado essa banda que mudou o mundo. Ela mudou o modo como vivemos e como nos vestimos. E ele sabia disso. Assim, quando ele sentou para assinar, ele sabia que era pra valer. A sua assinatura foi a última. Se ele havia criado o grupo, deveria ser ele a pessoa a acabar com a banda.”

É interessante notar que periodicamente surgem relatos de pessoas próximas contando que os Beatles mantiveram sim contato após sua separação. O próprio Clapton quase conseguiu reuní-los em seu casamento, faltando apenas John, no que seria uma jam session histórica em 1974. Por outro lado, o próprio Lennon fez uma certa força para apagar seu passado Beatle como uma coisa menor, com músicas como How Do You Sleep. De qualquer forma, fica cada vez mais provado que as divergências eram mesmo profissionais e, principalmente, financeiras.

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