segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Rock News: O 'beach boy' Brian Wilson transforma a canção popular de George Gershwin em música pop

Talvez apaixonados pela música de George Gershwin desaprovem as ousadias cometidas pelo velho "garoto da praia". No CD "Brian Wilson reimagines Gershwin" - lançado mundialmente nesta terça-feira, pela Walt Disney Records -, o cantor, compositor e arranjador pegou sucessos deste que é um dos pais da canção popular americana e aproximou-os de rock, doo-wop, country, surf music e demais estilos nascidos após a morte do autor de "Summertime".

No entanto, aqueles que não pensarem nas insuperáveis gravações anteriores - nas vozes de, entre outros, Frank Sinatra, Billie Holiday, Fred Astaire, Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan - vão se divertir com o disco de Brian Wilson, um dos artistas mais influentes do rock desde o início dos anos 60, quando surgiu como líder do grupo californiano Beach Boys. E, além das releituras, como bônus estão duas parcerias póstumas com Gershwin, "The like in I love in you" e "Nothing but love". Raspas do tacho, as músicas incompletas ficaram guardadas por mais de 70 anos e foram cedidas ao roqueiro pelos curadores da obra do compositor. Mas o CD vale mesmo é pelo repertório velho agora reinventado.

Jacob Gershowitz - como foi batizado, em 26 de setembro de 1898, em Nova York, esse filho de judeus russos - viveu pouco, mas, ao morrer, em plena atividade e no auge do sucesso, na Califórnia, em 11 de julho de 1937, após uma operação para extrair um tumor no cérebro, já tinha construído admirável obra. Canções de sucesso em musicais da Broadway e de Hollywood (com letras do irmão, Ira Gershwin), que logo foram adotadas por intérpretes do pop e do jazz; concertos clássicos; e a ópera "Porgy & Bess", que, pioneiramente, fundiu a tradição europeia com o blues, matriz para a melhor música criada nos EUA, do jazz ao rock, do soul ao hip-hop.

O grande barato que a audição de "Brian Wilson reimagines Gershwin" proporciona é identificar algumas das pontes estendidas entre a obra de Gershwin e a praia pop na qual Brian Wilson sempre surfou. Aberto e fechado por um trecho de "Rhapsody in blue", em delicado vocal à capela, há grandes achados entre as outras 12 faixas. Como "I got rhythm" em levada que remete à surf music, subgênero do rock que teve os Beach Boys entre seus inventores. Ou "I've got a crush on you" vestida como arrebatadora balada rock, introduzida por um piano martelado, com arranjo vocal à la doo-wop, estilo derivado do rhtyhm 'n' blues que imperou na década de 50 e é uma das fontes em que o grupo de Wilson bebeu.

Já entre o doo-wop e o rockabilly está o tratamento para "They can't take that away from me". Enquanto o blues é a cama em que Brian Wilson deita e rola, com voz rascante, inspirado em Ray Charles, nas interpretações de "It ain't necessarily so" e "Summertime" - sendo que nesta última, de "Porgy & Bess", o blues já era a base. Em "Someone to watch over me", um violão de cordas de aço conduz o tema, com naipe de cordas e coral ao fundo, lembrando as baladas pop dos Beatles (como "Yesterday") em meados dos anos 60. Ele também faz uma versão country, e instrumental, conduzida por gaita e banjo, de "I got plenty o' nuttin'" - outra de "Porgy & Bess".

Já em "'S wonderful" a surpresa é Brian Wilson flertar com a bossa nova. Mesmo que num samba meio rumba, repete o que João Gilberto fez três décadas antes, quando reimaginou o clássico de George e Ira Gershwin no disco "Amoroso". Provas deliciosas de que grandes canções pop como as de George Gershwin nunca perdem a força.
fonte: O Globo


Ouvi algumas faixas e achei interessante, apesar das linhas meio bossa nova. Dá uma sacada ai embaixo e tire suas próprias conclusões.





Um comentário:

Dani disse...

Rhapsody in Blue é uma das composições mais bonitas que conheço.

muito bacana o post! vou "provar" o Gershwin do Brian Wilson.