sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Blog'n'Roll: Brasil, país da música ruim - parte 2 - Bichos Escrotos


Quando foi composta pelos Titãs, em meados da década de 80, Bichos Escrotos chocou pelos palavrões e foi saudada pela censura com uma “restrição para reprodução pública”. Ao contrário do que se pode supor, não eram palavrões gratuitos e a liberdade relativa que o momento proporcionava permitia uma crítica aguda à sociedade de consumo.

Muita coisa mudou desde então, até mesmo com o Ultraje a Rigor usando do mesmo artifício já nos anos 90 com a música Nada a Declarar. Mais uma vez os reacionários de plantão receberam a banda com um monte de pedras, criticando o palavrão gratuito (cu não deveria ser palavrão, e sim palavrinha), sem levar em conta que era justamente sobre isso que tratava a letra.

Já se foram quase 20 anos e os bichos escrotos hoje são outros. Vivendo de moda em moda, temos absurdos regionalizados e alguns em nível nacional, tratando feito idiota um povo que carece das mais básicas noções de educação e cultura. Aliás, é em nome dessa tal cultura que muita coisa segue intocada, com um status de tesouro nacional como o nosso samba. Mas prefiro falar dele mais para o final deste texto.

É melhor começar com a coqueluche (justa comparação, já que esta doença pode provocar seqüelas de ordem neurológica) do momento: o sertanejo universitário. Encabeçado por adolescentes de cabelo esquisitão, letras com padrão axé de qualidade e coreografias ridículas (qual não é?), essa praga varre o Brasil de norte a sul e agora a dona platinada faz questão de mostrar, cheia de orgulho, que nos quatro cantos do mundo o povo se rende ao que vem do interior do país.

Claro que essa moda foi iniciada bem antes, com a enxurrada de duplas de cornos que apareceu nos anos 90, fugindo das festas de peão (uma espécie de câmara de tortura para as bolas de touros e cavalos) e levando os chifres e esporas à uma exposição nacional. Mas, com o declínio dessas duplas algum gênio teve a idéia de pegar uns moleques e dizer que eles cantam. Menos mal, porque os moleques crescem, perdem a graça e desaparecem. O problema é que logo inventam outros.

Fenômeno parecido acontece com o que vem dos morros cariocas. Não estou falando de bala perdida, porque isso tá em extinção depois das UPPs. O verdadeiro crime são os funks que agridem ouvidos e mentes. O fenômeno é parecido porque, se os breganejos crescem e desaparecem, em geral bandido morre cedo.

Falar de funk já é um pecado, se levarmos em consideração o verdadeiro funk, de James Brown, Sam Cook e, por aqui, Tim Maia. Nada tem a ver com hip hop e, geralmente, traz na letra o popular “proibidão”, com apologia ao uso de drogas, tráfico, crime organizado, pedofilia, incitação à violência... Ainda bem que não preciso falar mais, porque este é um blog família e sei que tem criança que lê. Por outro lado, é comum ver crianças ouvindo funks que fariam o Costinha ter vergonha da letra. Sugiro uma UPP na música brasileira. Lugar de bandido é na cadeia.

Cadeia que é nacional, se o assunto é axé, genialmente definida pelo Marcelo Nova (Camisa de Vênus) como “música para adestrar macaco”. Propagado em geral pelas emissoras de TV paulistas (é onde elas passam o carnaval), o som que vem da Bahia talvez seja o mais universal do mundo, capaz de ser composto só com vogais: aê aê aê aê, aô aô aô aô....

Mais uma vez o que se vê são letras sem mensagem alguma e, quando tem, de cunho sexual. A repetição faz uma lavagem cerebral tão grande que o sujeito nem entende porque está ali. Fala também de pratos esquisitos... eu ein! Não gosto nem de banana com queijo, imagina com chiclete.

Não me chamem de preconceituoso, mas tem um grupo que cresce demais hoje e me apavora. É o tal do gospel, onde em nome de Jesus tudo pode, inclusive doar 10% do que você não tem a um pastor. Nessa onda aparece um monte de gente que “adora” com os mais variados ritmos. Já vi até funk evangélico, acredite! Chuta que é macumba!!!

Para encerrar nossa fauna de bichos escrotos, aquele que nasceu do mais brasileiro dos ritmos. O pagode como conhecemos hoje nada tem de carioca. É um pastiche de todos os estilos acima, inventado em São Paulo e Minas e tocado por pelo menos 6 pessoas, mas os grupos em geral passam fácil de 10 cabeças. As letras são o de sempre: cornice.

Nem preciso falar que o nível da coisa é no padrão barriga de cobra. Assim como o funk, tem uns e outros aí que já andaram presos por comprar “tênis” calibre 762 e outros acabaram escapando, depois de matar no trânsito e ficar por isso mesmo.

Nem vou perder tempo falando de bandinhas coloridas, filhos de pais heróis e boysbands, porque se o problema fosse apenas sonoro, tava muito bom!

O pior de tudo é que a música tornou-se um detalhe nas “baladas”, termo que odeio. Em geral, os lugares que tocam essas coisas atraem pessoas desinibidas, moças fáceis e rapazes com muita massa nos braços e nenhuma no crânio. Haja lei seca depois dos shows, para pegar tanta gente caneada por aí, matando e morrendo. Parafraseando o ditado que diz que “você é o que come”, gosto de usar “você é o que ouve”.

Você ouve música de corno?

Você ouve música de bandido?

Você ouve música para adestrar macaco?

Na próxima sexta, a 3ª parte da série. Enquanto isso, prepare-se para o carnaval, que já está chegando. Aí embaixo, um dos melhores vídeos dos últimos tempos, da jornalista Rachel Sheherazade, de um jornal local na Paraíba. Virei fã e assino embaixo!



Leia aqui a Parte 1

2 comentários:

Mauricio Prior Soares disse...

Um filósofo alemão que não me recordo agora o nome, certa vez disse, conhecemos um povo pela música que ele ouve. Não culpo quem ouve essas músicas e sim quem as compra e vende a preços de ouro para promovê-las à níveis, como vc mesmo falou, internacionais. A toda platinada e seus seguidores, que são metade do país, e grande parte desse povo infelizmente é sem educação, claro que vai aplaudir de pé esse tipo pobre de música. Não vejo problema nenhum um francês ouvir Michel Teló, pois ele tem "educação" e sabe diferenciar uma coisa de outra, o ouve simplesmente pelo ritmo e farra, já aqui, ouvimos por achamos verdadeiramente bom, algo que de bom não tem nada, que fecha as portas da mente e restringe o pensar, coisa que na Europa acontece de forma contrária. Essa é a questão.

Caio Mattos disse...

Você foi na razi da questão.
Leia na próxima sexta a terceira parte e você vai concordar comigo.

Abração!