segunda-feira, 23 de maio de 2011

Review: Paul McCartney no Rio



Finalmente, 21 anos depois e 360 reais mais pobre, corrigi uma injustiça familiar histórica e assisti ao show de Sir Paul McCartney in loco. Claro que um hiato tão longo não terminaria de forma fácil, com uma apresentação arrancada à forceps do meu carma musical. Mas vamos aos fatos.

Nas semanas que antecederam ao show, muita gente me perguntava "e aí? ansioso". E eu nada. Sei lá, um misto de "tô nem aí pra esse velho caduco" com "não me caiu a ficha". A realidade é que não estava mesmo, até a véspera, quando comecei os preparativos. Assisti um DVD desta turnê (Kiev), ouvi o show de Nova York e o Paul is Live, de 1990.

Uma lacuna aqui para esta comparação e para um dos motivos do meu ar blasé para este show: acho esta banda do Paul a pior de todos os tempos. Livro a cara do baterista Abe Laboriel que bate direitinho. O guitarrista Rusty Anderson tem entre seu maiores sucessos Living la Loca Vida de Rickie Martin (!!!) e guitarra-baixo Brian Ray parece imitar o Steven Tyler o tempo todo. Pra quem jé teve Danny Lane, Robbie McIntosh e até David Gilmour recentemente, me parece muito pouco.


Voltando ao show, chegamos de carro ao Engenhão, cheio só em dia de show ou jogo do Flamengo. Estacionei tranquilamente (tenho os meus macetes de torcedor) e então enfrentamos a fila: das 4 às 6, com uma rigorosa revista que não poupou nem nossos toddynhos e biscoitos de maizena. Ingredientes que só o McGaiver poderia tranformar em bomba. Na verdade, bomba mesmo eram os preços lá dentro!

No mais, muita segurança (pertinho do German Complex, BOPE na rua), tudo organizadim, bunitim e limpim. Antes do show um DJ ficou fazendo merda (novidade) nas músicas dos Beatles e foi muito aplaudido quando terminou e saiu do palco. Finalmente ia começar!

E aí volto a toda a minha preparação para o show. O set list que eu imaginei já foi pro espaço, com Hello Goodbye no lugar de Drive my Car. A ótima 1985 incluída e a linda Here Today, composta para Lennon. Claro, as surradas Let It Be, Long and Winding Road e Yesterday apareceram, músicas que nem ele deve aguentar mais.

Numa carreira de quase 50 anos, claro que tem coisa que ficou de fora. Adoraria ter ouvido Ram On (tocada em Porto Alegre), The Back Seat of My Car ou Looking for Changes, mas seria pedir demais. Seria preciso um show de 6 horas para caber tudo de bom que esse senhor já produziu.

A sensação é dificil de descrever. Nem tanto pelo show em si, mas mais pelo significado das canções. No meu caso em particular, cada uma me lembra um momento de infância ou das bandas que tive. O nó na garganta demorou uns 15 minutos para desatar e depois relaxei e pude curtir melhor o show. É incrível como mesmo em um show que tem tudo para ser previsível, Paul nos surpreende, seja com seu carisma ou com sua vitalidade, na flor dos 68 anos.

Paul na verdade é como um tio que sempre esteve presente, que de vez em quando aparece para fazer uma visita. Esteve presente em tantos momentos que tornou-se íntimo. Acho ridícula e deprimente reações do tipo "ele passou a 2 metros de mim buá!!!". Isso é apenas um culto à celebridade sem sentido. Paul nada seria sem sua música e vice versa. Isso que importa, o artista e sua obra. O homem Paul é uma pessoa como eu ou você.

Duas horas e meia depois, fim de show e parecia que eu estava mais cansado que ele. Hora de sair no meio da muvuca e retornar a Nickity City, do outro lado da poça. Valeu? Claro que sim! Daqui 20 anos vou olhar para trás e lembrar deste momento com carinho, como hoje lembro dos Rolling Stones em 1995. Na minha lista ficam faltando agora o Clapton e o Pink Floyd. Um ainda dá pra ver!

Aí embaixo o set list completo do show de ontem.

1) "Hello goodbye"
2) "Jet"
3) 'All my loving"
4) "Letting go"
5) "Drive my car"
6) "Sing the chances"
7) "Let me roll it"
8) "Long and widing road"
9) "1985"
10) "Let em in"
11) "I´ve just seen a face"
12) "And I love her"
13) "Black bird"
14) "Here today"
15) "Dance tonight"
16) "Mrs Vandebilt"
17) "Eleanor Rigby"
18) "Something"
19) "Band on the run"
20) "Ob-la-di, ob-la-da"
21) "Back in the USSR"
22) "I gotta feeling"
23) "Paperback writer"
24) "A day in the life"
25) "Let it be"
26) "Live and let die"
27) "Hey jude"
28) "Day tripper"
29) "Lady Madonna"
30) "Get back"
31) "Yesterday"
32) "Helter Skelter"
33) "Sgt. Peppers lonely hearts club band"

3 comentários:

ZANNA disse...

Confesso que foi sim um dos melhores shows que já vi na minha vida!Levei um susto quando eles abriram o show com "Hello goodbye" é uma das minhas preferidas, e o nó na garganta foi imediato. Mas realmente essa relação de Paul, Beatles com a infância, é muito forte, em vários momentos do show, voltei a ser criança e só faltou a vassoura na mão, pois é assim que minha mãe descreve. Quando eu tinha meus 5 anos de idade ouvia Beatles com a vassoura na mão fazendo de guitarra.Enfim, e o mais importante foi assistir o show do lado de uma pessoa que me conquistou tocando "Something" que tbm está na minha lista das favoritas.FODA! ESSA É A PALAVRA PARA O SHOW DO PAUL.

VALEW AMOR!

Danfern disse...

Quanto à proibição de entrar com bebida/comidas nem acho que é por segurança, é mais pra obrigar a consumir lá dentro mesmo...rs

Quanto ao show em si:

Pois é, não adianta...não tem como ficar imune ou insensível ao tio Paul !!! (Nem implicantes assumidas conseguem...rs)

Quando vc falou de sensações e lembranças, difícil não se identificar. Realmente, dá pra lembrar de tantos momentos já vividos...quem também tem Beatles no coração entende :-)

Poxa, faltou vc explanar qual foi a tal injustiça familiar histórica...

E ADOREI a história da Zanna, beatlemaniaca-mirim de vassourinha!!!! :-)

Caio Mattos disse...

Dan, a injustiça familiar foi o seguinte: na show de 1990 eu nem tava muito a fim de ir, estava numa fase ouvindo muito pouco Beatles. Por outro lado meu irmão estava fissurado e queria muito ir. Ele tinha uns 14 anos e eu uns 17. Tava tudo certo pra gente ir, mas na semana choveu pra caceta e minha mãe vetou o show. Claro que na hora H deu tudo certo, o show foi histórico e até hoje ela meio se arrepende disso (como me confessou ontem pelo telefone).

Corrigi a minha injustiça, mas meu irmão vai ter que esperar mais um pouco...