sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Blog'n'Roll: Brasil, país da música ruim - parte 3 - Os Vilões


No final de 2008, a platinada botou no ar a minissérie Capitu, baseada na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. Além de ser um dos melhores livros do meu escritor favorito, ela trazia na trilha sonora Black Sabath, Jimi Hendrix, Iron Maiden e, principalmente Beirut. A arte era primorosa, os textos perfeitamente adaptados e a trilha sonora caiu como uma luva na trama do século XIX. Mas aparentemente poucos gostaram.

Terminada a minissérie, o pau quebrou entre a direção da emissora e os produtores. Motivo? A audiência não havia alcançado os níveis mínimos. Muitos diziam que o público não estava preparado para a linguagem usada no programa, outros preconceituosamente, achavam um absurdo o Beirut ser lançado às feras do grande público televisivo. Nem uma coisa nem outra.

Vamos voltar uns 40 anos, para o meio dos anos 60. Não apenas o Brasil, mas o mundo vivia em erupção cultural. Além de todos os movimentos que aconteciam (psicodelia, tropicalismo, cinema novo, hippies, pop art...) as pessoas tinham sede do novo e o principal: estavam dispostas a entender o que o artista tinha a dizer. Mais que isso, o público estava preparado para o que o artista tinha a dizer.

No nosso pobre caso especial, vieram 20 anos de ditadura, não apenas física, mas moral. Ano após ano, geração após geração, a inteligência popular foi sendo dinamitada. Professores cada vez menos preparados e a educação pública abandonada. Dentro das famílias o reflexo era o mesmo, com um estímulo cultural cada vez menor.

Após 30 anos de emburrecimento generalizado, a concorrência televisiva começou a nos empurrar uma programação baseada no “quanto pior melhor”, com uma turma na base de leões, ratos e outros bichos menos votados. O símbolo disso é a tarde de domingo, mas não se iluda: a podreira rola de segunda à segunda.

No rádio a coisa não foi muito diferente. Talvez a última rádio emblemática tenha sido a Fluminense FM, responsável pelo lançamento de 9 em cada 10 bandas de rock nacional dos anos 80. Na internet, oráculo do novo mundo, era de se esperar que as pessoas buscassem o conteúdo mais rico, mas o que aconteceu foi juntamente o contrário, desperdiçando a maior e mais democrática mídia já criada.
Voltamos aos dias de hoje e o resultado destes últimos 30 anos é deprimente. Gerações emburrecidas e embrutecidas, sequer conhecem nomes como Alceu Valença e Pink Floyd, só querem saber de música pra pular, repetir vogais e encoxar mulher bêbada. O nível de retardo é tal que muitas vezes as pessoas nem sabem porque gostam. Simplesmente repetem a frase: um milhão de moscas não podem estar erradas, coma cocô.

Mas o caldo azeda mesmo é quando esses ignorantes de plantão são alçados aos cargos de “produtores culturais”. Cara, isso me tira o humor completamente! Gente que não tem preparo sequer pra botar um disco na vitrola acha que está fazendo uma grande coisa juntando mil pessoas para encher a cara ouvindo pagode ou então botar um quadrilha pra dançar funk, num baile patrocinado por traficantes. Tudo em nome da tal arte popular. Quer ver ficar pior?

Você os interpela e eles falam “Ah mas eu sou do rock (em geral fazendo um malocchio quando dizem isso). Tô nessa porque preciso de dinheiro.”

Porra, se você é do rock toca rock imbecil! Precisa de grana? Tenta o comércio, faz um concurso público, estuda e vira alguém na vida. Não importa a grana que você ganhe, você está colaborando para a imbecilização da população e a conta será cobrada no futuro, quando seu filho não souber a diferença entre deputado e prostituta. Vai ser cobrada quando algum conhecido morrer num acidente provocado por um bêbado que saiu do seu evento ou quando um parente for assaltado por um funkeiro que precisa comprar uma pedra de crack.

Sou da opinião que todo mundo precisa ter princípios. Não existe dinheiro que compre alguém com princípios e os meus não estão à venda. Sou do rock, vivo vendendo o almoço para comprar a janta mas, por dinheiro nenhum, mudaria meu modo de ser, de tocar, de vestir ou de pensar, ainda mais sabendo que compactuaria com um movimento de imbecilização nacional, como o que acontece.

Existe ainda um movimento preconceituoso, sobretudo contra o rock. É normal ver dono de casa dizendo “não quero cabeludo drogado vestido de preto arrumando confusão no meu bar”. Desafio qualquer pagodeiro a ir num show em motoclube (público favorito do Mustang) e encontrar alguém usando droga ou arrumando confusão. Você verá sim, casais, famílias e até mesmo crianças de colo, todas curtindo numa boa.

Para terminar, este texto não estaria completo sem botar a culpa no bode expiatório favorito do brasileiro: o governo. Sim, porque num país onde um professor de nível básico (o mais importante de todos) ganha o que ganha e tem as condições de trabalho que tem, o governo acaba tendo uma fatia gorda nesta culpa. Tem culpa também na concessão de canais de TV e rádio à emissoras sem a mínima proposta educativa e cultural.

Portanto, quando você ouvir um desses versos abaixo:

1 – Ah se eu te pego
2 – Burguesinha burguesinha burguesinha
3 – Aê aê aê aê, Aô aô aô ao
4 – Alguns funks impublicáveis neste blog

...não os culpe, eles não sabem o que fazem. São apenas idiotas produzidos pelos vilões da música, que vêm trabalhando com afinco, em troca de dinheiro, pelos último 30 anos pelos menos. Aí embaixo, cultura de primeira para desintoxicar. Pink Floyd e Edvard Munch em um casamento perfeito!

Leia aqui a Parte 1

Leia aqui a parte 2

The Scream from Sebastian Cosor on Vimeo.

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