sexta-feira, 3 de abril de 2009

Rock News: Sem abandonar sua crença, Yusuf Islam, ex-Cat Stevens, anuncia volta definitiva à música comercial

Se algum dos jornalistas esperava algo mais incomum do que tirar os sapatos na antessala, a visita ao escritório de Yusuf Islam é decepcionante. Tirando alguns objetos decorativos, como um imenso inalador de vidro, não há citações do Corão espalhadas pelas paredes e, entre as xícaras de café à disposição dos convidados, há uma bandeja com os tradicionais biscoitos amanteigados servidos em casas de chá britânicas. E o cantor durante anos conhecido como Cat Stevens até se surpreende quando cumprimentado por um dos jornalistas com a saudação muçulmana "Salaam alaykum" ("A paz esteja convosco", em árabe).

Islam, por sinal, aparece para a rodada de entrevistas e audição de seu mais novo álbum, "Roadsinger" (Sony, o primeiro em três anos e apenas o segundo com material inédito convencional lançado desde 1978), de um jeito totalmente diferente do imaginado por mentes mais férteis e impressionáveis com a história do cantor folk transformado em muçulmano devoto por força de uma epifania durante um quase afogamento em plena Malibu, há quase 33 anos. A longa barba é a única pista e, durante a sessão de quase duas horas, Islam em momento algum pronuncia o nome do profeta Maomé, por exemplo.

- Não tenho coisa alguma a ver com política e, embora houvesse gente na comunidade islâmica achando que eu tinha abandonado a religião, a maioria das mensagens que recebi foi de apoio desde que voltei a gravar. Meu desejo é simplesmente o de fazer música, não sei fazer outra coisa - conta o compositor, que aparenta pelo menos dez anos a menos que os 60 completados em julho do ano passado.

" É muito fácil ser incompreendido pela minha crença, talvez por isso tenha decidido ficar longe de tudo por tanto tempo "

Se a declaração imediatamente sugere uma estratégia de conciliação por parte de Islam, o fato de ele recentemente ter lançado um single ironizando sua polêmica deportação dos EUA, em 2004, por ordens do governo americano, mostra que o cantor só vai mesmo reagir se provocado. Por outro lado, ele sabe que sua conversão religiosa não só é incomum no mundo da música popular ocidental como ainda esbarra numa ignorância generalizada sobre o islamismo.

Desde o anúncio de que Cat Stevens fora sacrificado como promessa pela salvação nas águas da Califórnia, o londrino foi acusado até de apoiar a sentença de morte proferida contra o compatriota Salman Rushdie, em 1988. O fato de ele ser patrono de instituições de caridade, cristãs ou muçulmanas, costuma passar ao largo.

- É muito fácil ser incompreendido pela minha crença, talvez por isso tenha decidido ficar longe de tudo por tanto tempo. Mas amo o que faço, e é importante estar em contato com as pessoas, buscar essa harmonia que hoje parece tão difícil. Criar nunca é destrutivo. O caminho que escolhi confunde as pessoas, mas meu mundo é amplo e sem fronteiras. A paz é um objetivo universal - explica Islam, que durante várias partes da conversa fala com olhos fechados, como se meditasse.

E basta Islam apertar o play no aparelho de som a seu lado para que se perceba que, à exceção de uma série de álbuns religiosos gravados em meados da década de 1990, musicalmente o cantor poderia até ter adotado o nome de Steven Demetre Georgiou - filho de pai grego, ele foi registrado assim - sem causar grandes alterações num estilo vocal e instrumental que resultou em vendas de 50 milhões de discos em cinco décadas de carreira. "Roadsinger", que terá lançamento mundial na primeira semana de maio, traz melodias suaves e letras simples, carregadas de reflexões combinadas com observações casuais, que embalam gerações.

Mesmo a espiritualidade surge de forma mais sutil, entre escuridões, sonhos e declarações de amor. Registrado entre Nashville, Londres e Los Angeles, o disco foi gravado ao vivo, com arranjos simples que incluem Islam empunhando uma guitarra elétrica, instrumento com que quase nunca havia sido visto ou ouvido nos trabalhos anteriores. Pelo menos uma canção dos velhos tempo, a inédita "Rain", foi incorporada ao novo trabalho. Se nos últimos anos pôde-se contar nos dedos quantas vezes o artista se apresentou ao vivo, o londrino agora pretende, ainda que numa proporção nem tão literal, cair na estrada com o álbum. Sem falar nos planos para um musical de fantasia baseado em alguns de seus principais sucessos, incluindo "Moonshadow" e "Father and son".

Pelo menos para a pequena plateia que o cercava na fria manhã de Londres, não havia sinais de ferrugem nos dedos e na garganta de Islam. Violão em punho, o cantor e compositor fez uma breve apresentação de três músicas de "Roadsinger", que, ao contrário da letra de uma outra de suas canções clássicas, "Wild world", fez o mundo lá fora parecer um pouco menos selvagem.
fonte: O Globo


Primeira semana de maio né? Ok, podem procurar aqui!
Acho que fazem muito alarde pelo fato de Cat ter se tornado muçulmano. Se tivesse se convertido como judeu ou evangélico ninguém ia falar nada. Se fosse budista, seria chique. Mas a intolerância religiosa e principalmente política ocidental é irritante.

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